sexta-feira, 26 de março de 2010

Qual a melhor opção logística para o agronegócio?




A matriz de transporte de cargas no Brasil vem sofrendo visíveis (mas pequenas) alterações ao longo dos últimos anos (embora a extinção do GEIPOT tenha prejudicado muito o acesso aos dados do segmento).

Esta era a matriz em 2005 (ultimo dado disponível)

Temos uma matriz mal balanceada, levando-se em consideração principalmente as dimensões de nosso país e a vocação e potencial agrícola e de extração mineral.

Outros países com dimensões e características semelhantes trataram ao longo dos anos a questão de forma bem diferente:

O PNLT (Plano Nacional de Logística e Transportes) tem como meta principal equilibrar esta matriz com uma nova matriz para 2023 com a seguinte configuração:


Talvez um pouco receosos das ações do PAC e outros megaprojetos similares, as empresas privadas tem caminhado para modificar este quadro, em especial no agronegócio (Nunca é demais lembrar que a mineração já faz isso há anos e é extremamente eficiente no quesito logística).

Dados do setor apontam que o custo logístico é em torno de 20% no custo final do açúcar, a logística da commodity começa a sair da inércia. Atualmente, entre 80% e 90% do açúcar exportado pelo Centro-Sul segue até os portos da região por caminhão, mas investimentos estão sendo realizados para incrementar o volume transportado por ferrovias para mais de um terço do total.

Algumas ações estão dos grandes grupos do segmento indicam que este número deve alterar-se significativamente nos próximos anos.

1) Segundo a ALL, em 2009, a malha ferroviária do Paraná transportou em torno de 3,7 milhões de toneladas de açúcar. Segundo o Valor econömico, cerca de 1,5 milhão de toneladas foram de produto de fora do Paraná, sobretudo de Mato Grosso do Sul e de São Paulo. Somente a Rumo Logística, controlada pela Cosan, que transportou por ferrovia em torno de 1 milhão de toneladas para exportação no ciclo passado, espera movimentar, na safra 2010/11, de 5 milhões a 6 milhões de toneladas por trilhos.

2) O grupo São Martinho, que anunciou esta semana parceria com a Rumo, também investirá para ampliar a capacidade de transbordo do terminal ferroviário de açúcar localizado na Usina São Martinho, em Pradópolis (SP). Atualmente com capacidade para cerca de 800 mil toneladas do produto por safra, o terminal será ampliado para 2 milhões de toneladas em 2011/12, para atender à demanda de boa parte das 23 usinas localizadas em um raio de 50 quilômetros do terminal. "Estimamos que essa região produza 3 milhões de toneladas", diz o presidente da Rumo, Julio Fontana Neto, sobre o potencial da clientela vizinha.

3) Criada em 2008 por um grupo de produtores de etanol que representam um terço da produção nacional desse produto, a Uniduto tem a missão de oferecer soluções logísticas inovadoras, via dutos e portos, para o etanol produzido no Brasil e torná-lo mais competitivo nos mercados nacional e internacional. Com um projeto baseado em dutos e integração multimodal, a empresa prevê iniciar suas atividades na safra 2011/12. Quando em operação, terá capacidade para transportar até 17 bilhões de litros de etanol por ano. É um projeto ambicioso, porém ainda não saiu do papel, principalmente pelas incertezas quanto a atratividade do etanol no mercado externo.

4) Outra empresa criada, a PMCC (Petrobras, Camargo Correa e Mitsui) também anunciou investimentos de 2 bilhoes de dólares para uma extensa rede de dutos. O alcoolduto da PMCC está previsto para ser implantado em fases e, quando estiver concluído, irá se estender entre Paulínia, onde situa-se a Refinaria do Planalto (Replan), e Senador Canedo (GO), em trajeto com cerca de 800 quilômetros. Esse trecho será instalado na mesma faixa do poliduto São Paulo-Brasília (Osbra), usado para transporte de gasolina, nafta, diesel e querosene de aviação (QAV). Estão previstos quatro centros coletores de etanol na faixa do Osbra. São eles: Ribeirão Preto, Uberaba, Itumbiara e Senador Canedo. Um outro duto, com 115 quilômetros, será construído entre a Replan e Anhembi (SP).

5) A Petrobras Transporte S.A. (Transpetro) prevê escoar 4 bilhões de litros de etanol pela hidrovia Tietê-Paraná, até 2015, quando toda a frota de 20 comboios adquiridos pela companhia estiver em operação. O início da construção do estaleiro está previsto para julho de 2011, o primeiro comboio deve ser entregue em dezembro do mesmo ano, mas somente em 2013, com nove comboios, o transporte de etanol começará. Isso porque a companhia ainda depende da interligação da hidrovia com a Refinaria de Paulínia (Replan), por meio de um duto. A obra do duto, que deve ligar a cidade de Anhembi (SP) a Paulínia (SP), será feita pela PMCC, companhia controlada pela Petrobras, a Mitsui e a Camargo Corrêa. Em 2015, todos os comboios estarão operando.

Existe ainda uma extensa malha ferroviária não utilizada (ramais inoperantes) no estado de São Paulo com bom potencial para transporte tanto de açúcar quanto etanol, porém sem o Ferroanel e o aumento da capacidade do sistema de cremalheiras da serra do Mar ficará impossível incrementar o uso da modalidade ferroviária.

Os projetos de dutos estão em compasso de espera em função das incertezas do produto no mercado internacional, uma vez que os países ainda estão reticentes quanto a dependência do produto brasileiro.

O uso do sistema hidroviário é, junto com o ferroviário, a solução com maior possibilidade de implantação no médio prazo, porém existem necessidades de infra-estrutura para os terminais e do duto entre Anhembi e Paulínia.

Até lá vamos torcer para que o preço do açúcar e do etanol continuem na estratosfera, caso contrário voltaremos ao cenário (péssimo) de 2008.

O poder público e a iniciativa privada precisam se alinhar para ações cirúrgicas como estas acima mencionadas (é importante ler a exame deste mês, coma solução encontrada pela Vale, produtores e governo de Minas e Goiás), ou continuaremos a ver os milhares de caminhões trafegando pelas rodovias com cargas diretas para o Porto de Santos. Pelo menos o rodoanel chegará no final do mês...

É bom ficar de olho, pois boas oportunidades estão surgindo.

Fontes: Jornal Valor Econômico e Ministério dos Transportes

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