sexta-feira, 26 de março de 2010

Transporte de Açúcar e Etanol por barcaças... Porque esquecer do Tietê-Parana?

Esperando no cliente para mais rodada do BR In City li na web e escrevi...

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Agência Estado
A Petrobras Transporte S.A. (Transpetro) prevê escoar 4 bilhões de litros de etanol pela hidrovia Tietê-Paraná, até 2015, quando toda a frota de 20 comboios adquiridos pela companhia estiver em operação. Hoje, a companhia lançou, durante a Feira de Negócios do Setor de Energia (Feicana), em Araçatuba (interior de SP), o edital da concorrência para a aquisição da frota, dentro do Programa de Modernização e Expansão da Frota (Promef).

Segundo o presidente da Transpetro, Sérgio Machado, 25 companhias serão convidadas para participarem da concorrência, num negócio estimado em US$ 400 milhões, o qual inclui, além da frota, um estaleiro para construção das 80 barcaças e dos 20 empurradores, bem como de terminais de recepção do combustível na hidrovia. Pelo cronograma da Transpetro, até maio de 2010 as propostas das empresas devem retornar, o resultado da vencedora sai em agosto e o contrato em setembro.
O início da construção do estaleiro está previsto para julho de 2011, o primeiro comboio deve ser entregue em dezembro do mesmo ano, mas somente em 2013, com nove comboios, o transporte de etanol começará. Isso porque a companhia ainda depende da interligação da hidrovia com a Refinaria de Paulínia (Replan), por meio de um duto. A obra do duto, que deve ligar a cidade de Anhembi (SP) a Paulínia (SP), será feita pela PMCC, companhia controlada pela Petrobras, a Mitsui e a Camargo Corrêa. Em 2015, todos os comboios estarão operando.

Segundo a Transpetro, a licitação prevê a compra de 20 comboios para o transporte pela hidrovia Tietê-Paraná, que tem 2,4 mil quilômetros navegáveis. É a primeira operação da companhia para o escoamento de etanol. O combustível será transportado das novas fronteiras da cana-de-açúcar, no oeste do Estado de São Paulo, Mato Grosso do Sul, Goiás e Minas Gerais, até a Refinaria de Paulínia (Replan).

Cada comboio substituirá 180 carretas que trafegam por rodovias e tem um custo estimado três vezes menor que o transporte por estradas. O Promef Hidrovia prevê, assim como o Promef, um conteúdo 70% nacional nas embarcações. A Transpetro prevê que a encomenda gere 2 mil novos empregos.

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Ontem mesmo conversei com o amigo Rui Cambi sobre o assunto barcaças e resolvi retornar aos bons tempos de COPPE: Escrever, escrever, escrever...

Segundo dados do Sistema de Navegação Fluvial nos EUA e do Corpo de Engenheiros do Exército Americano (USACE), os USA possuem 40.230 Kms de hidrovias sendo:

· 19.310 hidrovias interiores

· 20.920 hidrovias litorais

Só a hidrovia do Rio Mississippi (Principal corredor agrícola dos EUA) tem 3.730 Kms

Os demais números são impressionantes (e de dar inveja). Segue:

· Existem 400 Portos Principais para embarque de produtos a granel.

· São disponibilizados no orçamento americano mais de $2 Bilhões para o USACE manter as hidrovias.

· O orçamento de 2006 disponibilizou cerca de $900M, retirando mais de 228 Milhões de metros cúbicos de dragagem anual (equivalente ao volume aproximado de 150 Maracanãs). IMPORTANTE: 90% da dragagem feita por empreiteiras. Chega de estatais...

Estes são os números do transporte hidroviário nos EUA;

Ou seja, mas de 70 milhões de toneladas de produtos agrícolas e derivados foram transportados em 2006 por hidrovia nos EUA. Estamos bem longe deste número.

A Petrobras quer transportar em 2015 3,4 milhoes de tons de etanol... A hidrovia do Madeira (A mais eficiente do Brasil) transporta hoje algo em torno de 04 milhões de toneladas de grãos para de Porto Velho(RO) para Itacoatiara(AM). Uma operação eficiente.

O mesmo USACE nos mostra que o transporte por hidrovia tem um custo 2/3 do custo do por tonelada na mesma distância que o transporte ferroviário e 1/10 do rodoviário. São números que impressionam.

O comboio padrão que navega pela hidrovia do Mississipi, por exemplo, transporta o equivalente a uma composição com seis locomotivas e 216 vagões... Se compararmos com o modal rodoviário a distância é ainda maior. O mesmo comboio transporta o equivalente a 1050 caminhões. E ainda querem asfaltar a BR-319... Ao lado do Rio Madeira.

Os números acima parecem não sensibilizar o governo brasileiro. Ao ler na íntegra o PAC (?) descobrimos que:

- As hidroelétricas de Santo Antônio e Jirau não prevêem a construção na 1ª etapa de eclusas. Um enorme contrasenso, pois vai atrapalhar um projeto privado vitorioso.

- O governo vai a fórceps asfaltar duas rodovias que cortam floresta amazônica: BR-163 (Santarém – Cuiabá) e BR-319 (Porto Velho – Manaus). Um crime sob todos os aspectos. Qualquer estudo mostra que o transporte (junto com a energia elétrica) é com certeza o maior vetor de crescimento, pois a acessibilidade atrai atividades econômicas. Um uma bioreserva como a floresta amazônica é uma garantia de devastação sem controle.

Ambas obras mostram que ou o governo é extremamente mal assessorado (duvido) ou acredita realmente que asfalto trás voto (acredito).

Outro número que reforça a necessidade do desenvolvimento do transporte hidroviário é o impacto ambiental. Eficiência de Combustível para transportar uma tonelada de carga é muito maior na hidrovia. Só para ilustrar, com litro de combustível conseguimos percorrer com uma tonelada as seguintes distâncias nos diferentes modais:

244 Km na Hidrovia

175 Km na Ferrovia

66 Km na Rodovia

O sistema é eficiente e é “auto-financiavel”. Como? Vejam só:

Em 1986 o Congresso criou o Fundo de Reservas para a Navegação Fluvial (Inland Waterways Trust Fund – IWTF) onde é cobrado um Imposto sobre Combustível para Embarcações de $0,05 por litro de combustível usado nas hidrovias interiores. IWTF é usado para construções novas e grandes projetos de reabilitação. Existe uma divisão de 50/50 de custos entre IWTF e apropriação do Congresso.

Foi estabelecido um comitê de usuários da navegação fluvial. Alem disso, existe um imposto de 0,125% do valor da carga (ad valorem) para manter o sistema.

A discussão vai longe. Obviamente existem impactos, porem bem menores que os gerados pelo transporte rodoviário ou ferroviário. O beneficio imediato da rodovia continua encantando os políticos.

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