quinta-feira, 4 de fevereiro de 2010

1as. impressoes sobre a nova empresa criada pela uniao entre a Shell e a Cosan


A multinacional Shell (3a maior empresa de energia do mundo) e a Cosan (maior companhia de etanol do mundo), assinaram no dia 31/01, em Londres, um memorando de entendimentos para unir os negócios de etanol e distribuição de combustíveis no Brasil. A transação está avaliada em US$ 12 bilhões, segundo apurou o Valor Econômico.

O que pode estar por trás da formação da terceira maior distribuidora de combustíveis do país? Vamos os fatos...

1) A Shell, que já investia na pesquisa de etanol de segunda geração, passa a participar também da produção direta de etanol. Com 23 usinas de açúcar e álcool a Cosan é lider de mercado e terá condiçoes de garantir fornecimento do produto. A empresa há alguns anos investe em pesquisa de etanol celulósico, por meio da Iogen, empresa de pesquisa em biotecnologia da qual a Shell detém 50% de participação. Esse ativo também entrará na composição da nova empresa, assim como os 14,7% de participação na Codexis, outra companhia de pesquisa voltada para tecnologias limpas.

2) A entrada de um "player" importante do mercado como a Shell na produçao em larga escala de etanol representa a 1a. tentativa concreta de transformaçao do produto em commodities, velho sonho dos produtos de etanol que o governo brasileiro ainda nao conseguiu viabilizar.

3) Equaliza o problema de fluxo de caixa da Cosan, ferozmente alavancada com as últimas aquisições (entre elas a própria Esso, por quase 1 bilhão de dólares). A Cosan coloca US$ 2,5 bilhões de dívida (quase todos seus compromissos financeiros) e a Shell aporta US$ 1,6 bilhão em recursos em até dois anos. Úm alívio para Cosan.

4) Aumenta a concentraçao no setor de distribuiçao de combustíveis: Após a pulverização, quando a abertura do mercado de petróleo e derivados, no fim da década de 90, permitiu a existência dos chamados postos de "bandeira branca", a tendência agora é a concentração nas não de empresas de maior porte. Ao mesmo tempo, a operação foi vista como o aproveitamento pela Shell de uma oportunidade de se posicionar bem no mercado de combustíveis renováveis, após ter reduzido substancialmente sua fatia no mercado de distribuição de derivados de petróleo no Brasil. A união da Shell e da Cosan, o maior investimento de uma empresa de petróleo em biocombustível feito até hoje, aumenta a pressão sobre a liderança histórica da BR Distribuidora em pelo menos um dos segmentos da distribuição de combustíveis. Apesar de ainda manter-se líder no mercado geral, na distribuição de etanol a subsidiária da Petrobras sente mais uma concorrente privada no seu calcanhar. A BR tem 32,5% do total, contra 29,2% da nova companhia. A BR já é seguida de perto pelas duas bandeiras do grupo Ultra (Texaco e Ipiranga), que somadas tem 29,6% do segmento de etanol.

Os detalhes da transação ainda estão em discussão. O negócio prevê a criação de duas subsidiárias abaixo da Cosan S.A., listada no Novo Mercado da Bovespa -, uma para as atividades de etanol e outra de distribuição. A participação de cada companhia ainda não está definida. Como diz o meu amigo Rui Cambi, daqui a pouco teremos um indice de Etanol/Acucar na bolsa.

As especulacoes indicam que a Cosan poderá ter 51% do capital e a Shell, os 49% restantes da operacao de distribuicao. A estrutura será invertida na empresa de postos de gasolina, na qual a Shell poderá ter 51% das ações. Apesar da diferença de participações, as companhias pretendem dividir a gestão igualitariamente.

Ficam de fora as operações de cogeração de energia a partir do bagaço de cana, logística e a empresa de terras, além das operações de lubrificantes, herdadas da Esso. Da parte da Shell ficam fora das operaçoes de prospecçao e lubrificantes. As demais atividades devem entrar na transação.

O "Pulo do Gato" está em uma cláusula que o mercado diz haver no contrato. Existiria um prazo de 10 anos cada uma das empresas poderá negociar a compra da fatia do outro em cada um dos negócios.

Apesar de tudo, existe ainda a possibilidade (irrisória diga-se de passagem) do negócio nao evoluir. Devemos lembrar que a Shell se desfez das operacoes em vários mercados latino-americanos de distribuição, como Colômbia e Uruguai. No Brasil varios boatos surgiram, principalmente pela concorrência predatória de empresas beneficiadas por liminares para não pagar tributos e até com a venda de combustíveis adulterados.

A sorte esta lancada.

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